Há pelo menos 20 anos
que venho afirmando, bem como outros profissionais de saúde que às
intoxicações por agrotóxicos e afins ( agudas e crônicas) no
Brasil representarem um grave problema de saúde pública, ainda não
adequadamente documentado, determinando conseqüência que não são
devidamente enfrentadas.
Os principais sistemas de informação
em saúde existente para o registro de intoxicações por agrotóxicos
e afins e o perfil epidemiológico destes agravos que poderia apontar
para a definição de diretrizes para o fortalecimento da vigilância
epidemiológica não recebem por parte do setor responsável
(Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde) a
devida atenção.
Em 2002, defendi minha dissertação de
mestrado na Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, onde através
da realização de um estudo descritivo sobre a situação dos
principais sistemas de informações para o registro de intoxicações
por agrotóxicos e afins, o Sistema Nacional de Informações
Tóxico-Farmacológicas da Fundação Oswaldo Cruz - SINITOX, avaliei
os casos registrados no período de 1995 a 2000; o mesmo fazendo para
o Sistema Nacional de Agravos de Notificação- SINAN da Fundação
Nacional de Saúde, avaliando os casos registrados de 1996 a
2000.
Os estudos demonstraram que para o período compreendido
entre 1995 e 2000, o SINITOX registrou um total de 94.983 casos de
intoxicações por agrotóxicos e afins, correspondendo a 22,81 % do
total de intoxicações registradas no período. Deste total, 30.278
(31,88%) intoxicações foram causadas por agrotóxicos de uso
agrícola, 35.144 (37%) por domissanitários, 15.570 (16,39%) por
agrotóxicos de uso doméstico e 13.991 (14,73%) por raticidas.
Quanto aos óbitos, o total foi de 1268 mortes causadas por
agrotóxicos e afins, correspondendo a 51,73% do total por todas as
causas no período em estudo. O agrotóxico de uso agrícola
destaca-se como o agente mais incriminado, com 904 óbitos, o que
corresponde a 36,88% do total de óbitos por todas as causas
registradas pelo SINITOX no período. Do total de intoxicações por
agrotóxicos e afins, 54,5% casos ocorreram entre indivíduos do sexo
masculino. As causas determinantes das intoxicações por agrotóxicos
e afins foram em primeiro lugar os acidentes, seguidos dos suicídios
e causas profissionais.
Por: Alberto Benatto